O crediário é uma forma de financiamento muito popular no Brasil. Ele é usado principalmente para compras de bens duráveis, sendo oferecido por muitas lojas e, em alguns casos, por terceiros.

Neste artigo, explicamos em detalhes como isso funciona, as formas de crediário existentes e as taxas envolvidas nesse serviço, entre outras informações importantes sobre essa forma de pagamento.

Afinal, o que é o crediário?

O crediário é um modelo de venda no qual o varejista ou uma empresa especializada financia o valor de um produto em diversas parcelas para o cliente. Geralmente, o financiamento é feito a longo prazo – podendo chegar a 72 parcelas, por exemplo. Na forma mais tradicional, o cliente recebe uma série de carnês mensais para pagamento das parcelas em um prazo definido.

Na maioria das vezes, o crediário pressupõe a cobrança de juros por parte da loja ou empresa terceirizada. Nesse caso, o valor relativo aos juros, bem como de outros encargos financeiros, é distribuído nas parcelas do crediário.

Formas de crediário: próprio ou garantido

A venda no crediário popularizou-se no Brasil como meio de acesso de muitas famílias a bens de consumo duráveis, como móveis e eletrodomésticos. Por isso, muitas redes de lojas nesse ramo desenvolveram sua própria oferta de crediário. No entanto, essa não é a única forma que as lojas têm para oferecer crediário, como veremos a seguir.

Crediário próprio

O crediário próprio, como o nome já indica, é oferecido com recursos da própria loja, que também assume a operacionalização e a oferta do serviço.

Nesse modelo, a loja assume todo o risco da operação – por isso, o crediário próprio também é conhecido como crediário não garantido. Por outro lado, tem uma maior flexibilidade e pode oferecer condições melhores para os clientes.

Ao oferecer crédito próprio, a loja fica responsável pelo sistema de análise de crédito, pela gestão de inadimplência e pela cobrança de dívidas, entre outras atividades necessárias para a viabilização do negócio.

Crediário garantido

O crediário garantido é oferecido por meio de um terceiro – geralmente, uma empresa financeira. Ou seja, a loja estabelece uma parceria com uma empresa especializada, que fica responsável pela análise de crédito e assume o risco de inadimplência.

Geralmente, no modelo de crediário garantido, a loja efetua o cadastro e envia os dados do cliente para a análise da financeira. Após analisar os dados do cliente, a financeira dá um retorno em relação à aprovação (ou não) da operação. Dependendo do resultado, também pode ser definido um limite de valor e/ou número de parcelas.

Casal fechando no vendedor compra no crediário

Com o Maquinão iZettle e o app gratuito, você vende em qualquer lugar

Neste modelo, diferentemente do crediário próprio, a loja fica condicionada às regras da financeira em relação à aprovação e aos termos da operação. Por outro lado, como o nome indica, passa a ter a garantia do recebimento.

Taxas de transação

O custo de uma operação de crediário pode variar bastante, dependendo do modelo adotado, das condições macroeconômicas (taxa básica de juros) e, claro, das condições de negociação. Com o aperto econômico atual, por exemplo, os juros do crediário tendem a ultrapassar a marca de 50% ao ano.

Em caso de inadimplência, os juros não podem ultrapassar 12% ao ano, quando o crediário é oferecido por uma loja varejista – não equiparadas a instituições financeiras. No caso de financeiras, por outro lado, os juros por atraso podem ultrapassar os 70%.

Os lojistas que oferecem crédito próprio têm uma maior flexibilidade para aumentar ou baixar as taxas cobradas. No caso de crediário garantido, normalmente têm um desconto maior sobre o valor recebido, como pagamento pelo risco assumido pela financeira.

A evolução do crediário: das notas promissórias aos apps

A venda a crédito sempre foi importante para a economia, por permitir a comercialização de produtos sem pagamento imediato. Para quem oferece um produto, essa é uma forma de garantir a venda mesmo que o cliente não possa pagar no tempo presente. Por isso, tornou-se indispensável para muitos lojistas, principalmente em momentos de crise econômica.

O desenvolvimento do sistema financeiro foi essencial para dar maior segurança aos credores. Originalmente, a venda no crediário era feita com base em notas promissórias, as quais serviam como comprovante legal da dívida. Na verdade, muitas lojas de menor porte ainda utilizam notas promissórias. No entanto, com o tempo, elas passaram a ser substituídas pelos carnês, que também têm força legal e facilitam o controle da dívida.

Mesmo com o surgimento do cartão de crédito, o sistema de crediário próprio ou financiado continuou a ter um papel importante na economia brasileira. Afinal, a taxa de bancarização e o acesso das famílias ao crédito são historicamente baixos no país. Como muitas pessoas não têm cartão de crédito – ou o limite é muito baixo – o crediário permanece sendo uma via de acesso a bens de maior valor.

A força das vendas a crediário no Brasil tem feito surgir startups com aplicativos voltados à oferta desse serviço diretamente aos consumidores. Exemplos disso são:

  • Crediário Digital
  • VirtusPay
  • Parcelex
  • Koin
  • Addi

Há também empresas que atuam na outra ponta, ajudando pequenas e médias empresas na oferta de serviços de crediário. Exemplos são:

  • Meu Crediário
  • Dinie
  • Bom Pra Crédito (BPC)

Em geral, essas empresas atuam como fintechs. Ou seja, o valor dos seus serviços está baseado não apenas na oferta de crédito, mas também na tecnologia por trás disso, que gera uma maior praticidade para os clientes – e, em muitos casos, condições mais favoráveis.

Crediário vs. parcelamento no cartão

Há diversas diferenças na venda a crediário ou de forma parcelada no cartão de crédito.

O crediário é um parcelamento de longo prazo, no qual o número de prestações pode chegar a 72 vezes (6 anos) ou até mais, em alguns casos. Já o parcelamento no cartão de crédito dificilmente é realizado em mais de 12 vezes.

Os juros em um parcelamento no cartão de crédito, quando cobrados, também costumam ser menores que os de uma compra no crediário. Afinal, como as lojas têm a garantia do recebimento, a cobrança de juros leva em conta os custos da transação por parte da operadora do cartão. Por outro lado, o cliente tende a pagar juros e taxas mais altas em caso de inadimplência.

Outro ponto importante é que uma operação no crediário requer, em geral, uma nova análise de crédito a cada pedido de financiamento. Ou seja, a cada compra, a loja ou a financeira avalia o risco da operação e decide aprová-la ou não – bem como define limites de valor e número de parcelas. No caso do cartão de crédito, esses limites são pré-aprovados.

Vantagens e desafios do crediário

A oferta de crediário traz diversos benefícios para os lojistas.

  • Menos vendas serão perdidas com essa opção de pagamento disponível. Afinal, nem todos os clientes têm todo o dinheiro disponível no momento da compra – ou desejam gastar esse dinheiro todo de uma vez.

  • Fidelização dos clientes, afinal, o cliente passa a ter uma relação de longo prazo com o negócio. Em muitos casos, ele pode ter de ir à loja com frequência para pagar o carnê do crediário.

  • Além disso, a loja pode monitorar mais de perto os seus comportamentos de compra e desenvolver ofertas personalizadas, programas de fidelidade e outras estratégias de vendas.

Para os consumidores, também há bons motivos para preferir o crediário, em relação ao cartão de crédito – e o lojista pode usar esses argumentos a seu favor:

  • O número possível de parcelas tende a ser maior no crediário, por exemplo.

  • Além disso, a cobrança de juros por atraso é menor no caso do crediário.

O maior risco para os lojistas diz respeito à inadimplência, no caso de crediário próprio. Em relação a isso, é importante estabelecer um modelo sustentável de negócio, com análise de risco, gestão eficaz de cobranças e sustentabilidade financeira.