A taxa Selic é uma referência importante para o mercado de crédito brasileiro. Um dos mais importantes instrumentos de política monetária do país, ela serve como referência para a definição das taxas de juros cobradas pelas instituições. Por isso, acaba impactando o conjunto da atividade econômica do Brasil.

Neste artigo, explicamos o que é, afinal, a taxa Selic, qual a sua origem e como ela é definida. Você também entenderá o que faz ela variar e de que forma essas oscilações afetam o mercado de crédito, a inflação e a atividade econômica do país. Além disso, explicaremos a relação da Selic com outros indicadores importantes, como a CDI e a Taxa Selic Over.

Afinal, o que é taxa Selic?

A Selic é a taxa básica de juros do Brasil. Ela é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e influencia as demais taxas de juros do país.

Isso inclui, por exemplo, os juros cobrados no cheque especial, em empréstimos pessoais e em financiamentos de veículos, mas também o retorno de diversos tipos de aplicações financeiras.

De forma geral, quando a Selic aumenta, os juros cobrados por empréstimos e financiamentos no Brasil também ficam mais altos. Por outro lado, algumas aplicações financeiras atreladas à Selic passam a proporcionar retornos mais elevados.

Portanto, entender a forma como a Selic é definida e o impacto dela sobre a economia é importante para qualquer pessoa com interesse em serviços financeiros.

Taxa é definida em reunião do Copom

Selic é a sigla do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, um programa de compra e venda diária de títulos do Tesouro Nacional. Ele é mantido pelo Banco Central, que negocia os títulos com instituições financeiras autorizadas. Pessoas físicas não têm acesso a essa negociação.

A negociação de títulos é uma das formas que o governo tem de arrecadar dinheiro, além da cobrança de impostos e da obtenção de empréstimos, entre outras opções. Ao emitir e vender títulos do Tesouro Nacional, o que o governo faz é assumir uma dívida.

Prédio do Banco Central do Brasil

Copom do BCB determina a taxa Selic – Crédito: Rmcarvalhobsb – stock.adobe.com

O comprador (em geral, uma grande instituição financeira) obtém o direito de receber de volta o valor investido, em uma data determinada, com acréscimo de juros.

A taxa Selic é a taxa de juros dos títulos do Tesouro oferecidos nesse sistema. O valor da Selic é definido em reunião pelo Copom a cada 45 dias. A cada vez que se reúne, esse comitê pode tomar três decisões diferentes:

  • Aumentar a Selic
  • Reduzir a Selic
  • Manter a Selic no mesmo nível

Na reunião realizada entre os dias 14 e 15 de junho de 2022, por exemplo, o Copom elevou a taxa Selic para 12,75% ao ano. No entanto, em anos anteriores, ela chegou a níveis tão distantes quanto 2% e 14%.

Em geral, quando se aproxima a data da reunião, os analistas procuram prever a decisão do Copom com base nos dados da economia.

Para tomar essa decisão, o Copom analisa diversos fatores, como a inflação, o crescimento da economia, a taxa de desemprego e o cenário internacional. Afinal, conforme as condições econômicas, é recomendável manter os juros mais ou menos baixos.

O que ocorre quando o Copom aumenta ou baixa os juros?
Os bancos usam os títulos do Tesouro como garantia nos empréstimos que realizam uns com os outros para cumprir suas obrigações de depósito junto ao Banco Central. Como há uma demanda diária e recorrente dos bancos por esses títulos, as instituições acabam definindo suas próprias taxas de juros com base na taxa Selic, que tende a ser a menor taxa praticada na economia. Isso gera um efeito cascata sobre toda a economia.

Qual a relação entre taxa Selic e inflação?

A Selic surgiu em 1979, em um contexto de hiperinflação da economia brasileira. Desde a sua criação, portanto, seu papel sempre foi o de servir como uma ferramenta para controle da inflação.

O Copom costuma definir a taxa Selic com base nos níveis de inflação e crescimento da economia. Em geral, as decisões são tomadas da seguinte forma:

  • Inflação maior: Copom aumenta a taxa Selic para reduzir a demanda

  • Inflação menor: Copom diminui a taxa Selic para estimular a demanda

Quando a economia está aquecida, há mais demanda por produtos e serviços. Com isso, os preços dos produtos tendem a subir — ou seja, ocorre um processo inflacionário.

Para evitar que a inflação fique descontrolada, o Copom pode aumentar a taxa Selic, o que torna os empréstimos e financiamentos mais caros e, consequentemente, reduz a demanda por esses produtos. Dessa forma, a inflação é controlada.

Se a inflação estiver controlada, o Copom pode optar por reduzir a Selic para estimular a economia. Nesse caso, com juros mais baixos, tende a haver mais demanda por empréstimos e financiamentos, o que acaba movimentando a economia. Ao mesmo tempo, pode ter início um processo de subida de preços.

Portanto, ao mexer na Taxa Selic, o Banco Central estará sempre à procura de um nível que proporcione o melhor equilíbrio entre inflação e crescimento.

Mudança na taxa tem impacto na economia

A taxa Selic é um importante instrumento de política monetária do governo. Com ela, o governo pode intervir na economia para evitar que a inflação fique descontrolada ou para estimular o crescimento da economia. E o impacto disso pode ser enorme para a vida dos empreendedores e do cidadão comum.

Um aumento da taxa Selic provoca a elevação dos juros sobre empréstimos e financiamentos. Com isso, ficam mais caros, entre outros, os seguintes serviços financeiros:

  • Empréstimo pessoal
  • Financiamento de imóveis e veículos
  • Crédito para novos negócios
  • Cheque especial
  • Rotativo do cartão
  • Antecipação de valores

Se você tem uma loja, por exemplo, um aumento da taxa Selic levará a uma elevação dos juros de um empréstimo para expandir seu negócio. Você também terá um custo mais alto com as taxas sobre vendas realizadas com uma maquininha de cartão.

Ao mesmo tempo, no caso de uma pessoa comum, uma elevação nos juros pode elevar o valor da parcela de um imóvel, caso a taxa do financiamento seja variável. Empréstimos pessoais, cheque especial e juros do cartão também tendem a ficar mais elevados.

Os efeitos para a economia como um todo podem ser amplos. Em última análise, a variação da taxa Selic pode afetar:

  • Volume de investimentos
  • Nível de emprego
  • Consumo das famílias
  • Endividamento das famílias

É claro que, caso haja uma redução da taxa Selic, o efeito sobre a economia será o inverso do que foi descrito até agora. Ou seja, os empresários terão um acesso mais barato a crédito, o nível de endividamento das famílias tende a se reduzir, e daí por diante.

Gráfico indicando aumento do preço do pão ilustrando relação entre inflação e taxa Selic

Variação da Selic visa controlar inflação

É importante destacar, também, que um aumento na taxa Selic pode beneficiar quem tem aplicações atreladas a ela, assim como pode ocorrer o contrário.

Em outras palavras, os investimentos de renda fixa tendem a se tornar mais vantajosos quando os juros estão elevados, e vice-versa. Um exemplo disso é o rendimento de contas digitais, como o CDB PagBank, cujo retorno é sempre superior ao CDI.

Há relação com CDI

Existe uma relação direta entre a taxa Selic e outros índices econômicos importantes. Um deles é a taxa CDI, que define os juros do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), usado em empréstimos entre os bancos.

O CDI é um título de dívida emitido pelos bancos comerciais do Brasil que representa o valor total em depósitos à vista que os bancos mantêm em suas contas em outros bancos comerciais.

Ele é usado para fins de liquidez, para ajustar o valor das operações de crédito e para outros fins de gerenciamento de risco. A taxa CDI é a taxa média de juros praticada nesses empréstimos. Ela é calculada pela B3 com base nos registros dessas operações.

Em geral, a taxa CDI é um pouco superior à Taxa Selic. Ela é amplamente utilizada como indicador de rentabilidade em investimentos para:

  • Certificados de Depósito Bancário (CDBs)
  • Letras de Crédito Imobiliário (LCIs)
  • Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs)

Diferença entre Selic Meta e Selic Over

Selic Meta é apenas outro nome dado à Taxa Selic. Até agora, estávamos falando justamente sobre esse índice.

Ele é definido pelo Copom a cada 45 dias e serve como padrão para a negociação de títulos públicos, além de servir como referência para a formação de juros no mercado financeiro.

Por outro lado, a taxa Selic Over é calculada como a média ponderada das operações no sistema Selic. Ela é calculada diariamente e, por isso, acaba sendo bem mais volátil que a Selic Meta. Ainda assim, na maior parte do tempo, elas pouco se diferenciam.

Selic pode influenciar taxa da maquininha de cartão

Como ocorre em outros serviços financeiros, a taxa Selic é um elemento importante na definição de preços e juros no mercado de maquininhas de cartão.

As taxas de transação do plano Ultra das maquininhas Ton, por exemplo, variam de acordo com a Selic, como pode ser visto na seção 4 do regulamento. Outro exemplo é o item 12.13 dos termos da Sum Up.

Essa é uma forma que as empresas têm de garantir sua saúde financeira. Em geral, as diferenças são sentidas na Taxa MDR, que é a taxa administrativa cobrada sobre as transações realizadas em uma máquina de cartão.

Portanto, é importante ler o contrato, antes de adquirir uma maquininha, para saber se a taxa de transação poderá mudar com eventuais alterações na Taxa Selic.