O Pix conquistou o coração dos brasileiros, tornando-se um dos principais meios de pagamento no país em menos de três anos de existência.

Em junho de 2023, o volume de transações Pix bateu novo recorde, atingindo 1,4 trilhão transferidos por meio de mais de 3,4 bilhões de transações segundo dados do Banco Central.

Veja a seguir como o Pix transformou o setor de pagamentos no país, os motivos por trás desse sucesso e o impacto potencial dessa solução de pagamento a longo prazo.

Praticidade e disponibilidade

Um dos principais motivos da adoção rápida e universal do Pix é a sua praticidade e disponibilidade, a qual atraiu tanto pessoas físicas quanto jurídicas. Bastam apenas alguns cliques para efetivar a transação, o que a torna acessível para toda a população brasileira, independente do nível educacional ou conhecimento técnico.

As transações Pix são disponibilizadas 24 horas por dia, os sete dias da semana. Isso significa dizer que é possível receber e fazer pagamentos mesmo à noite, nos finais de semana e nos feriados. E eles podem acontecer direto pelo celular, o que garante a possibilidade de completar a transação em qualquer lugar.

Volume de transações Pix

Fonte: Banco Central – Dados de transações liquidadas no SPI consideram apenas a fase de operação plena do Pix (a partir de 16/11/2020 ) enquanto transações liquidadas fora do SPI consideram também dados da operação restrita do Pix (a partir de 03/11/2020)

Essa facilidade caiu no gosto do brasileiro, principalmente aqueles que tem vida social ativa fora no horário comercial. Ficou mais fácil transferir dinheiro entre casais, amigos, além de pagar por serviços de entretenimento.

Também ficou mais simples pagar por produtos comprados online direto do sofá de casa. E quem mora longe de agências também percebeu a vantagem de realizar transferências sem ter que ir ao banco.

Custo zero para pessoa física

A ausência de taxas para pessoas físicas tornou o Pix altamente atraente para os brasileiros. Se antes era preciso pagar por TEDs e DOCs, ou arcar com o custo do pacote de serviços do banco, esse tipo de transferência passou a ser gratuita independente do número de transações e da instituição financeira de cada lado da operação.

Muitos provedores também não cobram taxa para Pix realizados por pessoas jurídicas, ou oferecem uma quantidade gratuita por mês. Desta forma, muitos micro e pequenos empreendedores passaram a considerar este método de pagamento com financeiramente mais vantajoso que o cartão de crédito, por exemplo.

Suporte governamental e institucional

O fato do Pix ser uma solução de pagamento criada e desenvolvida pelo Banco Central explica, em grande parte, o porquê dele ter se tornado tão comum em tão pouco tempo. A população brasileira viu nessa ferramenta um nível extra de confiabilidade oferecido pelo respaldo do governo federal.

A rápida adesão dos bancos tradicionais também contribuiu de forma bastante positiva para a ampla aceitação do Pix. Ou seja, algo bem diferente do que acontece quando uma fintech tenta entrar no mercado com uma nova solução financeira.

Imagem: © Mobile Transaction

Linha do tempo de criação do Pix de 2016 a 2020

A empresa recém-chegada precisa primeiro conquistar a confiança do brasileiro, o qual tende a ser cauteloso frente a novidades por conta do grande número de golpes financeiros presentes no mercado.

Além disso, a divulgação governamental e as campanhas publicitárias de instituições financeiras foram fundamentais para a popularização do Pix. Os meios de comunicação fizeram ampla divulgação, com direito a propagação de instruções claras e simples sobre como cadastrar chaves e fazer as transferências. O que é o Pix e como ele funciona foi amplamente informado, facilitando a adesão.

Democratização

O Pix também ampliou a democratização do acesso a transferências bancárias. Ainda que seja preciso ter uma conta para fazer a transação, esta pode ser de um banco tradicional ou digital ou uma carteira digital, como o PagSeguro, Mercado Pago ou PicPay.

É importante lembrar que muitas instituições financeiras digitais já costumavam oferecer TEDs e DOCs, inclusive a custo zero, além das transações gratuitas entre clientes. Mas o mais comum era a imposição de limitações quanto ao número de transações diárias ou mensais. Ultrapassado o limite, era preciso pagar pelo serviço.

Com o Pix, as transações passaram a poder se feitas exatamente da mesma forma entre qualquer pessoa de qualquer instituição financeira, não importando o porte da mesma ou pacote de serviços contratado.

Além disso, com muitas maquininhas de cartão aceitando Pix, deixou de ser preciso ter um cartão de débito ou crédito para fazer compras presenciais. A opção também já pode ser encontrado em checkout de muitas lojas online.

Momento certo

Em meio à pandemia, o Pix emergiu como uma tábua de salvação para muitos pequenos negócios brasileiros. Com as restrições impostas pelas medidas sanitárias, o comércio digital se expandiu, e o Pix possibilitou a realização de transações de forma rápida e segura. Isso reduziu a dependência de dinheiro em espécie e aumentou a conveniência para os clientes.

Pequenas empresas que adotaram o Pix colheram benefícios notáveis. A agilidade nas transações permitiu maior giro de caixa, proporcionando maior liquidez para enfrentar os desafios econômicos da pandemia. Além disso, o Pix facilitou a captação de clientes de outras regiões do Brasil, expandindo o alcance do negócio além das fronteiras físicas.

Complementação ou substituição?

Por outro lado, o Pix não parece ter substituído as transferências bancárias tradicionais como um todo. O número de DOCs, bem como o volume monetário dos mesmos têm se mantido relativamente estáveis desde setembro de 2020, como sugerem as estatísticas do Banco Central.

Gráfico comparativo mensal da quantidade de transações Pix e outros

Fonte: Banco Central

E os TEDs também mantiveram uma certa estabilidade no número de transações mensais. Em termos de volume monetário, o TED tem sofrido variações, mas continua mantendo resultados bem acima do Pix.

Assim, pode-se considerar que o Pix está sendo usado para realizar transferências antes feitas em dinheiro vivo ou para pagamentos que nem sequer existiam.

Mas isso pode mudar a qualquer momento. De acordo com a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2023 (ano-base 2022) da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgada pela Agência Brasil, as transações TED sofreram queda de 29% em 2022. Ou seja, pode ser apenas uma questão de tempo para que o Pix supere o volume.

Gráfico comparativo mensal do volume financeiro do Pix e outros tipos de transferências

Fonte: Banco Central

Já quando se fala em dados trimestrais, e também se considera formas de pagamento, percebemos que não foi só o Pix que cresceu durante a pandemia, mas também o uso do cartão de débito e crédito.

Os cartões pré-pagos também foram destaque, ainda que tenha apresentado um declínio desde o quarto trimestre de 2022. Mas o débito direto e o boleto continuam mais ou menos estáveis, ainda que o débito direto possa ser aquele mais diretamente afetado pelo Pix. Já os boletos já começaram a contar com QR Code para pagamentos Pix.

Gráfica Pix Trimestral em quantidade de transações comparadas com outros meios

Fonte: Banco Central

Pix veio pra ficar

O Pix provou ser uma revolução no setor de pagamentos do Brasil, com um papel significativo no fortalecimento de pequenos negócios durante a pandemia. Sua rápida ascensão como um método de pagamento preferido é resultado de suas características inovadoras, custo zero (ou quase) e do respaldo do governo e das instituições financeiras.

E, apesar dos desafios iniciais, o Pix demonstrou seu compromisso com a segurança e privacidade das transações, inspirando confiança nos usuários. Assim, ele tem o potencial de sustentar sua relevância e desempenhar um papel vital no crescimento econômico do Brasil.

Já se ele vai ou não substituir os meios de pagamento e formas de transferências, ou apenas complementar o quadro de alternativas, é algo ainda a se analisar. A crescente introdução de novos serviços, como Pix Saque e Troco, também precisam ser considerados nessa avaliação do impacto geral dessa ferramenta.