As transações financeiras estão evoluindo rapidamente, impulsionadas por avanços tecnológicos que revolucionam a maneira como efetuamos pagamentos. Dentre os elementos de destaque nessa transformação, encontra-se a biometria facial, uma inovação que já se estabeleceu como uma realidade na verificação de pagamentos no Brasil.

Do varejo ao mundo digital, a autenticação por meio da análise das características únicas do rosto humano está conquistando espaço e redesenhando a nossa relação com a segurança, a privacidade e a conveniência.

Neste artigo, exploraremos o atual estado da biometria facial na verificação de pagamentos no Brasil. Analisaremos como os consumidores estão recebendo essa tecnologia, comparando-a com outros métodos de autenticação biométrica física, e examinando as implicações que a adoção generalizada dessa ferramenta pode acarretar.

Biometria facial já é fato no Brasil

A biometria facial já é uma realidade na verificação de pagamentos no Brasil. A C&A, empresa líder no setor de varejo de roupas e acessórios, por exemplo, permite que os seus clientes usem essa forma de autenticação ao pagar por produtos com o C&A Pay, a solução de pagamento digital da própria marca.

Na hora de pagar no balcão, o responsável pelo caixa aponta uma câmera para o rosto do cliente. A imagem captada é comparada com aquela cadastrada no sistema, comprovando, assim, a identidade do cliente e autorizando a transação.

Pagamento por biometria facial

Biometria facial já pode ser usada para autorizar pagamentos

Diversas empresas de tecnologia também já oferecem soluções especializadas, as quais podem ser integradas a vários tipos de sistema. Via de regra, as soluções de reconhecimento facial são bastante versáteis, incluindo prova de vida, autenticação biométrica cadastral e autenticação biométrica transacional.

A solução da Serasa Experian, por exemplo, pode ser customizada para ser usada apenas para validar transações de alto risco. Ou seja, mesmo que ainda não seja possível usar o reconhecimento facial em uma máquina de cartão, o processo pode acontecer apenas em casos específicos e em paralelo. O lojista só precisa ter o software instalado em um computador, tablet ou mesmo um celular e uma câmera digital integrada ao conjunto.

Brasileiro gosta da biometria, mas prefere impressão digital

É fácil entender por que a biometria física está ganhando espaço no Brasil. Segundo pesquisa realizada pela Visa e AYTM Market Research,

9 a cada 10 consumidores estão familiarizados com a autenticação por biometria de modo geral. E os entrevistados acreditam que a biometria é mais rápida (85%) e mais fácil de utilizar (89%) do que as senhas, sendo que 48% também a consideram mais seguras.

A vantagem também é clara para os empreendedores, pois 28% dos entrevistados afirmaram já terem abandonado uma compra online por não lembrar de uma senha. A biometria elimina esse problema, criando o potencial de quase um terço de aumento no faturamento.

85%

acreditam que a biometria é mais rápida que a senha

89%

consideram biometria mais fácil de usar que a senha

48%

acreditam que a biometria é mais segura que a senha

Fonte: Visa e AYTM

A vantagem também é clara para os empreendedores, pois 28% dos entrevistados afirmaram já terem abandonado uma compra online por não lembrar de uma senha. A biometria elimina esse problema, criando o potencial de quase um terço de aumento no faturamento.

A biometria física tem várias vantagens distintas na comparação com as senhas. Ela é intrinsecamente mais segura, já que cada rosto, voz, impressão digital ou retina, é único e mais difícil de falsificar.

Além disso, a experiência do usuário é muito mais intuitiva, conveniente e ágil. Também não é necessário lembrar senhas complexas ou fazer o upload tokens físicos.

63%

preferem a impressão digital

42%

preferem a autenticação ocular

41%

preferem a autenticação facial


Fonte: Visa e AYTM

Por outro lado, o reconhecimento facial ainda precisa avançar na comparação com as outras formas de biometria física. A mesma pesquisa revelou que é a impressão digital que atrai o maior número de interessados (63%), seguido pelo reconhecimento por retina (42%) e facial (41%).

Mas ter quase a metade da preferência é uma boa marca considerando quão pouco comum é a tecnologia no Brasil. Na maioria dos casos, a biometria facial tem sido utilizada para a selfies na criação de contas em bancos digitais e não para a validação de pagamentos.

Privacidade e precisão devem ser consideradas

Apesar das vantagens promissoras do reconhecimento facial na verificação de pagamentos, a sua aplicação não está isenta de desafios significativos, como a privacidade dos dados biométricos coletados e a precisão do reconhecimento facial.

À medida que os sistemas capturam e armazenam as características distintivas do rosto de uma pessoa, surge uma inquietação compreensível sobre o possível mau uso das mesmas, seja em fraudes ou até mesmo vigilância não autorizada.

Há um risco de violações de segurança ou vazamentos de dados, especialmente considerando a crescente sofisticação dos ciberataques. A legislação e as regulamentações terão que evoluir para equilibrar essas necessidades, refletindo a sensibilidade crescente em relação à privacidade pessoal.

Reconhecimento de retina para verificação de identidade e validação de pagamento

Escaneamento da retina é mais preciso, mas menos popular

E, falando em precisão, falsos negativos ou positivos nos quais o sistema identifica erroneamente um indivíduo como sendo (ou não sendo) o titular da conta, são uma preocupação de muitos.

Embora a tecnologia esteja ficando cada vez mais acurada, variáveis presentes durante a captura da imagem (iluminação, ângulos) podem levar a erros. Mesmo mudanças sutis na aparência facial podem levar a equívocos, como uma pele mais bronzeada ou em envelhecimento natural.

A consequência direta disso são cliente frustrados diante de transações bloqueadas ou adiadas devido a erros de identificação. Essa inconsistência no desempenho do sistema pode minar a confiança dos usuários na tecnologia e, por extensão, nas instituições financeiras que a empregam.

Impacto da biometria facial pode ser profundo no mercado de consumo

À medida que o reconhecimento facial se consolida como uma forma convencional de verificação de pagamentos, podemos considerar uma série de especulações e implicações relacionadas ao seu uso. Estas incluem mudanças sociais e éticas, mas também esperadas alterações no mercado de consumo.

O uso generalizado do reconhecimento facial (e da biometria física de modo geral) na verificação de pagamentos tem o potencial de transformar a maneira como fazemos compras. A visão de lojas sem caixas, onde as compras são simplesmente retiradas das prateleiras e automaticamente cobradas através do reconhecimento facial, está cada vez mais próxima da realidade.

Biometria facial autorizando pagamentos

Autorização por reconhecimento facial exige precisão

Essa mudança no modelo de varejo não apenas economiza tempo para os consumidores e diminui custos fixos para os empreendedores. Mas também redefine o papel tradicional do caixa, exigindo um ajuste nas forças de trabalho e nas estratégias de atendimento ao cliente.

Por outro lado, com o reconhecimento facial, os varejistas poderão oferecer experiências de compra verdadeiramente personalizadas. Ao reconhecer os clientes assim que eles entram na loja, os estabelecimentos podem fornecer recomendações precisas com base no histórico de compras e preferências. Isso não apenas aprimora a satisfação do cliente, mas também a eficácia do marketing, impulsionando as vendas e a fidelização.

Outras biometrias física também têm prós e contras

Outra questão em alta é tentar qual tipo de biometria física é ideal para o setor de pagamentos. Além da biometria facial, são fortemente consideradas a verificação por impressão digital, reconhecimento de voz ou autenticação de retina.

A impressão digital, opção mais popular e mais comum atualmente, apresenta um alto nível de segurança e praticidade. Além disso, foi uma das primeiras a serem criadas, sendo assim uma tecnologia estabelecida e confiável, com décadas de desenvolvimento e aprimoramento.

Por outro lado, a sua precisão pode ser afetada por fatores externos, como sujeira e umidade, potencialmente comprometendo a precisão.

Biometria Física
Impressão digital Voz Retina Facial
Destaque Tecnologia estabelecida Multi-tarefa Alta segurança e precisão Praticidade
Desafios Sujeira, umidade Ruídos, gripes Custo alto, iluminação Mudanças na aparência, iluminação

Já a autenticação por voz traz a vantagem de ser multitarefa, permitindo que os usuários verifiquem a própria identidade enquanto realizam outras atividades, como dirigir ou cozinhar.

Por outro lado, ela pode ser afetada negativamente por ruídos externos ou mesmo mudanças na voz devido a uma simples gripe ou resfriado. Sotaques e pronúncias incomuns também podem não ser reconhecidos por sistemas mais básicos.

Enquanto isso, a autenticação por retina é uma opção ainda mais precisa e mais segura por conta da complexidade dos padrões da retina em si. Mas ela ainda não é comum, principalmente porque o desenvolvimento e implementação deste tipo de sistema é caro e complexo.

Muitos usuários também podem achar desconfortável ter a retina escaneada – ou podem não poder fazer isso em locais pouco iluminados ou por conta de certas condições médicas.

Como não há biometria física perfeita, é aguardar para ver qual delas vai se tornar mais popular. Mas o vencedor pode ter a sua vitória determinada não apenas pela preferência do consumidor, mas também por conta do custo de desenvolvimento e da conveniência do mercado, além da adequação a questões legais e éticas.

Tecnologia deve passar por grandes avanços

Como dito, é certo que a tecnologia por trás da biometria física irá evoluir e muito. Tanto Visa quanto Mastercard, entre outros gigantes do setor, contam com programas especialmente focados no estudo e desenvolvimento dessa tecnologia.

Também é de se esperar a expansão do reconhecimento facial para além do celular, com dispositivos vestíveis, como pulseiras e relógios ganhando espaço. As formas de pagamento também devem chegar aos ambientes de realidade virtual (VR e AR), nos quais a biometria fará ainda mais sentido, ainda que possa a vir a ser reconfigurada para o reconhecimento de avatars em vez de imagens reais.

Para garantir a segurança da transação, a tecnologia 3D de mapeamento facial e a chamada liveness detection (análise feita por algoritmos capazes de determinar se a imagem registrada é mesmo de uma pessoa real e não uma recriação da mesma) também deverão aumentar a confiabilidade do método de verificação.

Além disso, parcerias entre instituições financeiras e empresas de tecnologia podem acabar levando ao desenvolvimento de sistemas padronizados de reconhecimento facial. Isso permitirá uma autenticação mais consistente e unificada em várias plataformas.