Brasília e São Paulo poderiam, juntas, ter um incremento de US$13 bilhões por ano no seu PIB (Produto Interno Bruto) com uma medida que não está nos planos de nenhum governo: a ampliação do uso de meios digitais de pagamento, como cartões de crédito e débito e as tecnologias sem contato.
O cálculo é da pesquisa Cashless Cities, encomendada pela Visa à Roubini Thoughtlab, que teve como objetivo avaliar os benefícios associados à adoção de meios digitais de pagamento em 100 cidades ao redor do mundo.
De acordo com a metodologia usada, os US$13 bilhões seriam atingidos caso todos os cidadãos de Brasília e São Paulo alcançassem em 15 anos o mesmo nível dos 10% da população com maior utilização dos pagamentos eletrônicos. O estudo não prevê o fim do uso do dinheiro em espécie.
Assim como outras tecnologias, os pagamentos eletrônicos têm a capacidade de aperfeiçoar a qualidade de vida da população e incrementar a economia, em áreas como aumento de renda e de produtividade, redução de custos para os comerciantes e melhor controle da sonegação de impostos por parte dos governos.
A sociedade em geral se beneficia com a redução da criminalidade associada aos roubos de valores em espécie, e com a geração de empregos proporcionada pelo crescimento econômico.
Veja a seguir de que forma as cidades brasileiras seriam impactadas:
Maior impacto seria no comércio paulista
Em São Paulo, os benefícios seriam distribuídos entre comércio (US$7 bilhões), governo (US$3 bilhões) e consumidores (US$1 bilhão). O impacto no PIB alcançaria 0,23% de crescimento ao ano, no período de 15 anos considerado pela pesquisa. Além disso, seriam criados 106 mil novos postos de empregos formais.
Como os números mostram, os comerciantes seriam os principais beneficiados. pode parecer mais simples e barato realizar transações em dinheiro, mas o fato é que, para as empresas, o custo médio é de 2% da receita. Em São Paulo, o percentual chega a 3%, segundo a Roubini Thoughtlab.
Benefícios no Uso de Pagamentos Digitais em São Paulo
Fonte: Visa
Este cálculo considera, por exemplo, o tempo médio para que o dinheiro em espécie ou o cheque apareçam na conta bancária, o que varia de um dia e meio a três dias. As empresas ainda perdem horas contando, processando e depositando o dinheiro. Nesse caso, o ditado popular faz todo o sentido: tempo é dinheiro.
As despesas com roubos, dinheiro falso e falta de troco na caixa registradora são ainda maiores, chegando a 9% em São Paulo. Este percentual é menor em cidades mais desenvolvidas, como Chicago (1%) e Tóquio (2%).
Brasília teria aumento no PIB superior ao de São Paulo
Em Brasília, o impacto no PIB seria ligeiramente superior ao de São Paulo, com ganhos em torno de 0,27% ao ano. Isto caso toda a população alcançasse o mesmo nível de utilização dos pagamentos digitais que os 10% que mais utilizam essas tecnologias. Em números, o valor anual ultrapassaria US$2 bilhões.
Também neste caso, o comércio seria o maior beneficiado, com ganhos de US$1,4 bilhão. O governo seria favorecido com US$0,5 bilhão e os consumidores com US$0,2 bilhão.
Brasília tem alguns fatores a seu favor para se tornar uma cidade menos dependente do dinheiro em espécie. É uma das capitais brasileiras com melhor rede 4G, melhor índice de desenvolvimento humano e maior renda. Uma boa conexão de internet é fundamental para o funcionamento dos meios digitais de pagamento, e a renda mais alta favorece o acesso ao sistema bancário.
Cidades dividem-se em 5 estágios de maturidade digital
Para poder calcular o impacto em cada uma das 100 cidades estudadas, os pesquisadores consideraram não apenas a infraestrutura disponível e a inclusão bancária como também fatores culturais. Os municípios foram distribuídos em cinco grupos:
Centradas em Dinheiro em Espécie
Em Transição Digital
Em Amadurecimento Digital
ou
Digitalmente Avançadas
Líderes Digitais
As duas cidades brasileiras foram classificadas como em Amadurecimento Digital, com a capital federam um pouco à frente: alcançou um índice de 70% ante 58% de São Paulo.
A ampliação do uso de pagamentos digitais poderia resultar em benefícios totais de até US$470 bilhões por ano no conjunto das 100 cidades, o que representa, em média, um aumento de 3% no Produto Interno Bruto (PIB) em um período de 15 anos.
Em Buenos Aires, predomina o uso do dinheiro
A nossa vizinha Buenos Aires está mais distante dos benefícios de uma economia digital. A cidade foi incluída no primeiro grupo, onde a economia ainda é muito centrada no dinheiro em espécie.
A maturidade digital de Buenos Aires ficou em 46%. Por ter um caminho mais longo a percorrer, o impacto no PIB dos portenhos seria ainda maior: 0,48% ao ano.
No extremo oposto estão as cidades líderes digitais, que oferecem um desenvolvido sistema de pagamentos eletrônicos, alto uso de tecnologias móveis e elevado índice de inclusão dos cidadãos no sistema bancário. Estocolmo, Londres, Sydney estão incluídas neste grupo.
Em Estocolmo, mais de 80% das contas recorrentes e despesas diárias da população de renda média e alta são pagas via meios digitais.
Dinheiro em espécie atrai criminosos
Um dos principais catalisadores do uso dos meios digitais de pagamento, em especial nas grandes cidades de países em desenvolvimento, é o medo de assaltos. O temor é justificado.
Em São Paulo, por exemplo, houve um aumento de dez vezes no número de roubos aos motoristas do Uber quando o aplicativo passou a aceitar pagamentos em dinheiro, no segundo semestre de 2016.
Para os governos, o dinheiro também pode representar perda de receitas. Ele pode ser mais facilmente ocultado das autoridades, favorecendo a corrupção e a sonegação de impostos.
US$2 bi
Valor anual que Brasília ganharia se toda a população utilizasse pagamentos digitais
Com menos dinheiro em circulação e menor número de roubos, uma das consequências é a redução dos custos com investigação, processos judiciais e penitenciárias.
Nas cidades onde o uso dos meios digitais de pagamento é mais alto, estima-se que a economia de recursos com a redução da criminalidade seja de até US$190 milhões por ano, de acordo com a Roubini Thoughtlab.
Projeto será levado para outras capitais brasileiras
Apesar de São Paulo e Brasília serem consideradas cidades em amadurecimento digital, cabe lembrar que a média do país é bem diferente. No Brasil, o dinheiro é o meio de pagamento mais utilizado nas lojas físicas, representando cerca de 50% do total.
São Paulo e Brasília são consideradas cidades em amadurecimento digital
O uso dos pagamentos eletrônicos ainda é baixo nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. A adesão, porém, tem aumentado a cada ano, seguindo a tendência mundial, de acordo com dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).
Com o objetivo de incentivar a disseminação dos meios eletrônicos de pagamento no Brasil, a Visa mantém o programa Cidades do Futuro, iniciado em 2018 em Belém, Campina Grande e Maringá.
A próxima cidade a receber o projeto será Araguaína, no Tocantins. A Visa e sua parceira iZettle, empresa sueca que oferece soluções de meios de pagamentos e gestão de negócios, irão oferecer a máquina de cartão pela metade do preço a todas as micro, pequenas e médias empresas do município. Também irão promover campanhas informativas sobre os benefícios do pagamento eletrônico.
Utilizando a mesma metodologia da pesquisa Cashless Cities, a Visa estima que os ganhos para Araguaína serão de R$270 milhões por ano, divididos entre comércio (R$119 milhões), governo (R$116 milhões) e consumidores (R$35 milhões). A cidade foi escolhida por ainda ter sua economia muito voltada para o dinheiro em espécie.
Empresas ampliam lucros com meios digitais de pagamento
É fácil pensar que o dinheiro é o meio de pagamento mais confiável e barato, pois a humanidade convive com cédulas e moedas há milhares de anos. Mas os números apontam em outra direção.
A pesquisa Cashless Cities traz perspectivas para o futuro, mas também dados presentes que sustentam as estimativas. Em São Paulo, as empresas de pequeno, médio e grande porte tiveram ganhos de 51%, 30% e 27% respectivamente, quando passaram a aceitar pagamentos digitais.
Lucro das Empresas de São Paulo ao Aceitar Pagamentos Digitais
Fonte: Visa
Como isso aconteceu? Com as transações eletrônicas, as empresas deixaram de gastar horas processando os pagamentos recebidos e efetuados e puderam se beneficiar com o aumento da base de clientes cadastrados e com ações de relacionamento. Também aperfeiçoaram o acompanhamento de estoque e de despesas.
Custo do dinheiro é mais alto que o dos meios digitais
Você não vê o custo do dinheiro já que ele é isento de taxas, mas ele existe. A aceitação de dinheiro e cheque tira das empresas 7 centavos de cada dólar recebido, contra 5 centavos por dólar coletado de meios digitais, segundo o estudo.
É como se você gastasse aproximadamente R$0,08 a mais para cada R$3,96 que você recebe em dinheiro quando comparado aos meios eletrônicos.
Ou seja, receber muitos pagamentos em dinheiro pode ser mais caro do que você imagina, ao considerar não apenas o custo em si como também o que você deixa de lucrar com os meios de pagamento digitais.
Imagine os consumidores que você deixa de atender por recusar cartões, as coisas que as pessoas poderiam comprar a mais e não compram porque o dinheiro não é suficiente, ou as desistências por falta de troco. Isso sem falar nas horas perdidas manuseando o dinheiro e nas despesas extras com segurança.
Se você está convencido dos benefícios dos meios digitais de pagamento e quer incentivar mais consumidores a usá-los, há algumas iniciativas ao seu alcance: