As carteiras digitais estão se tornando mais populares no Brasil a cada ano, mas tiveram um estímulo ainda maior em 2020, com as novas condições impostas pela crise sanitária.

Em um curto espaço de tempo, devido às restrições, muitas pessoas passaram a usar carteiras digitais para pagamentos e transferências.

Em 2019, segundo pesquisa do IDC para o PayPal, 38% dos brasileiros já haviam usado carteiras digitais. Já um estudo mais recente, divulgada em 2021 pela Toluna, mostra que, com a pandemia, esse número chegou a 89% dos brasileiros.

PayPal, Mercado Pago e PagBank são as carteiras digitais mais conhecidas

As principais empresas do setor de carteiras digitais não divulgam com frequência seu número de usuários. No entanto, o PicPay garante ter o maior número de usuários em um app de pagamentos no país. Segundo  a empresa, seriam mais de 50 milhões de usuários, atualmente, além de R$3 bilhões em transações por mês.

Já o PagBank, a carteira digital do PagSeguro, chegou a 6 milhões de usuários no final de 2020, segundo informações da empresa. Outras empresas com grandes bases de usuários no Brasil são o Mercado Pago e o PayPal. Isso sem falar nas carteiras digitais da Apple e da Samsung, que são de uso exclusivo em aparelhos fabricados por essas  empresas.

De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Toluna, no fim de 2020, estas são as marcas de carteiras digitais que os brasileiros mais conhecem:

Carteiras Digitais Mais Conhecidas no Brasil

86,15%

PayPal

77,92%

Mercado Pago

69,96%

PagBank

69,16%

PicPay

37,98%

Google Pay

36,68%

Recarga Pay

Destaca-se, em primeiro lugar, o PayPal, com 86,15%, uma marca global e já estabelecida há muito tempo dentro e fora do Brasil. Já o Mercado Pago, com 77,92%, surgiu como meio de pagamento do Mercado Livre, marketplace de origem argentina muito popular no mercado brasileiro.

O Mercado Pago evoluiu, ao longo do tempo, para tornar-se uma carteira digital independente e contar com seu próprio público. Completam o topo da lista duas carteiras digitais nacionais: PagBank PagSeguro (69,96%) e PicPay (69,16%), de origem capixaba.

Mais abaixo, aparecem carteiras digitais de gigantes como Google Pay (37,98%), Samsung Pay (17,65%) e Apple Pay (16,62%), Nesses casos, o menor conhecimento dos usuários deve-se, em grande parte, ao fato de essas carteiras não estarem disponíveis em qualquer dispositivo, ficando restritas aos aparelhos ou sistemas operacionais das mesmas marcas.

Outra marca nacional que aparece na pesquisa é a RecargaPay (36,68%). Originalmente voltada a serviços de recarga de celular, a aplicação expandiu seu escopo de serviços ao longo do tempo. Apesar de não estar entre as marcas líderes, segundo a pesquisa citada, já aparece com um bom desempenho.

PicPay, PayPal e Mercado Pago sãos carteiras digitais mais usadas

Na mesma pesquisa, foram testadas as popularidades de aplicações de bancos, incluindo bancos totalmente digitais. Chama a atenção, nesse sentido, a popularidade das carteiras digitais frente a esses meios de pagamento.

Por exemplo, apenas 69,03% dos entrevistados disseram conhecer o aplicativo do próprio banco. Ou seja, as carteiras digitais têm marcas mais estabelecidas que os aplicativos de bancos como Itaú, Bradesco e outros. Já o Nubank, por exemplo, um banco exclusivamente digital, teve desempenho próximo ao das carteiras digitais mais conhecidas, atingindo 69,99% na pesquisa.

Por outro lado, a ordem entre as empresas se altera quando os entrevistados têm que responder quais aplicativos usam com maior frequência, podendo selecionar até três opções:

Carteiras Digitais Usadas Com Maior Frequência no Brasil

26,12%

PicPay

25,24%

Mercado Pago

24,50%

PayPal

21,60%

PagBank

17,81%

Apple Pay

17,11%

Recarga Pay

outra pesquisa da Toluna, divulgada em abril de 2021, mostra que estas são as carteiras digitais usadas por mais pessoas no Brasil, independentemente da frequência. Ou seja, são carteiras digitais nas quais as pessoas podem apenas ter uma conta cadastrada, sem muito uso, como também podem usá-la diariamente.

Obviamente, estamos falando de perguntas diferentes em cada caso. Na pesquisa realizada em parceria com a FGV, a Toluna questionou os entrevistados sobre suas carteiras digitais de uso preferencial. Ou seja, as respostas dos entrevistados demonstram quais carteiras são usadas com maior intensidade pelos usuários. Já a segunda pesquisa indica quais carteiras têm mais usuários cadastrados, independentemente da frequência de utilização.

Ou seja, apesar de ter a marca mais conhecida e uma base de usuários maior, segundo a Toluna, o PayPal não está na frente quando é medida a preferência de uso dos brasileiros. Na verdade, como demonstra a pesquisa, a gigante estrangeira fica praticamente empatada (24,50%) com PicPay (26,12%) e Mercado Pago (25,24%) na preferência dos usuários. Por isso, tanto no número de usuários ativos quanto no volume de transações é realmente possível que o PicPay esteja na liderança, atualmente, como a própria empresa alega.

O PicPay e o Mercado Pago, por outro lado, aparecem praticamente empatados tanto em relação à sua base de usuários quanto no que diz respeito à preferência do público. Além disso, as empresas ficam praticamente empatadas com o PayPal enquanto opções preferenciais dos brasileiros, mesmo tendo marcas menos conhecidas e uma base de usuários menor. Isso demonstra um potencial de crescimento interessante de ambas as empresas no mercado brasileiro.

Carteiras Digitais Com Maior Número de Usuários no Brasil

68%

PayPal

42%

PicPay

41%

Mercado Pago

*Fonte: Toluna 2021

Há também a Ame Digital, das Americanas, que já aparecia na segunda pesquisa da Toluna com uma base de usuários de 15% entre os entrevistados. Não fica claro o motivo de a Ame não ter sido mencionada diretamente na primeira pesquisa.

A escolha da Toluna pode ter se devido à “juventude” desta carteira digital, que tinha cerca de dois anos quando a primeira pesquisa foi realizada. A segunda pesquisa foi realizada seis meses depois. Há também diferenças na proposta da Ame, que tem um foco grande em serviços de cashback.

De qualquer modo, os números de ambas as pesquisas da Toluna demonstram uma forte concorrência entre as carteiras digitais existentes no Brasil. No momento, há marcas locais e de origem estrangeira já bem estabelecidas no país, além de novas carteiras digitais que surgem a todo instante e procuram colocar um foco maior em novos recursos, como serviços de cashback ou mesmo a interação social – como é o caso do PicPay.

Há diversos fatores que parecem impulsionar, atualmente, o mercado de carteiras digitais em determinadas direções. O cenário futuro, no entanto, ainda gera muitas dúvidas entre os analistas. A competição entre as carteiras digitais deve ficar ainda mais acirrada nos próximos anos, com empresas nacionais – como PicPay e PagBank – batendo de frente com gigantes mundiais – como o PayPal.

No entanto, com o aumento geral da base de usuários de carteiras digitais, é possível que haja espaço não apenas para a sobrevivência dessas empresas, mas também para o crescimento dos novos atores no mercado. A capacidade de seguir inovando deverá marcar a diferença entre os líderes do setor e seus competidores.

Inclusão digital potencializa uso de carteira digital

O Brasil está entre os principais mercados da América Latina quanto ao uso de carteiras digitais. Ainda em 2019 – ou seja, antes que a pandemia atingisse a região – uma pesquisa da IDC indicou que o uso de carteiras digitais chegava a 61% da população nas classes A, B e C no país. Nesse quesito, estávamos, há dois anos, praticamente empatados com o México (62%) e acima da Colômbia (52%).

Historicamente, segundo FGV-Toluna, as classes mais altas utilizam mais meios de pagamento eletrônico em geral, em especial as carteiras digitais e o cartão de crédito. Já as classes mais baixas costumam pagar mais no débito. Isso se deve, certamente, ao menor acesso das classes baixas, historicamente, à tecnologia de ponta, o que gera uma defasagem em sua inclusão em mercados que demandam recursos como os smartphones e internet móvel com maior disponibilidade e qualidade.

Além disso, o acesso ao crédito é menor entre as classes mais baixas. Sem acesso a cartões de crédito, por exemplo, esse público tem acesso limitado a uma das principais formas de pagamento integradas a carteiras digitais, historicamente. No entanto, a integração cada vez maior das carteiras digitais a serviços de débito e bancos digitais, bem como o recurso de transferência entre diferentes carteiras, têm atraído cada vez mais esse público.

O surgimento do Pix, no fim de 2020, pode acelerar ainda mais esse processo. Fica claro, portanto, que o crescente interesse pelos pagamentos digitais deve gerar uma expansão da base de usuários no Brasil ao longo desta década, atingindo todos os pontos da pirâmide social.

Com a crise sanitária, como demonstram os dados da Toluna, as carteiras digitais se popularizaram e passaram a fazer parte da rotina de 9 em cada 10 brasileiros. Ou seja, o que já se mostrava um cenário promissor tornou-se uma realidade lucrativa e repleta de oportunidades para o setor, como explicamos a seguir.

Efeitos da Covid-19 no uso de carteiras digitais

Uma pesquisa realizada pela Toluna para a SBVC, em maio de 2020, mostrou que 13% dos brasileiros alteraram sua forma de pagamento em lojas físicas para aplicativos digitais, nos primeiros meses da pandemia. A mesma pesquisa mostrou um impacto ainda maior da crise sanitária sobre a utilização de apps de pagamento em compras realizadas online.

Nos primeiros meses da pandemia, 16% dos consumidores brasileiros teriam alterado sua forma de pagamento na internet para carteiras digitais como o PayPal e o PicPay. Isso, claro, não conta os usuários que passaram a usar carteiras digitais como mais um meio de pagamento, em geral, sem deixar de lado as opções anteriores.

Segundo a terceira edição do Estudo Transformação Digital no Varejo Brasileiro, realizada em 2021, 90% das empresas do varejo já vendem pela internet, contra 71% em 2019. Além disso, 94% delas investem em soluções de pagamento digital. O investimento das empresas em soluções de pagamento digital parece ter refletido, em grande parte, a maior demanda dos consumidores por ferramentas desse tipo.

13%↑

passaram a usar carteiras digitais em lojas físicas

16%↑

mudaram a forma de pagamento online para carteiras digitais

Certamente, o crescimento das carteiras digitais reflete o maior volume de compras realizadas online, devido aos períodos de fechamento do comércio e à preocupação geral dos consumidores em se deslocar até os estabelecimentos.

No entanto, as carteiras digitais também podem ser usadas para transações entre usuários e para pagamentos em lojas físicas. Nesse sentido, elas evitam deslocamentos ao caixa eletrônico e possibilitam pagamentos sem contato em máquinas de pagamento. Ou seja, ofereceram praticidade e segurança no contexto no contexto da pandemia.

Podemos dizer, portanto, que as restrições causadas pela Covid-19 tiveram um impacto tanto sobre os hábitos dos consumidores quanto sobre o investimento das empresas, em relação à adoção de formas de pagamento digitais. O impacto pôde ser sentido principalmente nas compras online, mas também foi notado nos pagamentos em lojas físicas.

Varejo investe em pagamentos móveis

Conforme o Panorama dos Meios de Pagamento no Varejo Brasileiro (segunda edição), realizado pela Offerwise em parceria com a SBVC, 62% das lojas físicas ofereciam pagamento móvel via aplicativo no segundo trimestre de 2020. Em 2018, apenas 13% das empresas ofereciam esse recurso. Já os consumidores que usam esse meio de pagamento em lojas físicas passaram de 4% a 21% no mesmo período.

Em 2020, as carteiras digitais eram usadas por 85% dos clientes que disseram pagar via app em lojas físicas, segundo a mesma pesquisa. Isso corresponde, portanto, a 17,85% do total de clientes em lojas físicas. A Offerwise não divulgou esse mesmo dado para lojas online, mas reportou que 6% dos clientes de e-commerce tinham preferência por carteiras digitais como PicPay e PayPal. Isso corresponde ao dobro de 2019.

38%

não usam carteira digital por não saber como

33%

não usam carteira digital por não confiar no serviço

41%

gostariam de tentar usar carteira digital em 1 ano

Quanto aos motivos alegados para a não utilização de pagamentos via app em lojas físicas, 38% dos consumidores entrevistados disseram não saber usar esse recurso. Outros 33% afirmaram não confiar em pagamentos móveis. Outro dado, no entanto, chama a atenção: 50% dos que não utilizavam o recurso disseram ter a intenção de adotá-lo em até um ano.

Ainda não foi realizada a edição deste ano do Panorama dos Meios de Pagamento no Varejo Brasileiro. Portanto, não é possível comparar diretamente os números de 2020 com os de 2021. De forma geral, há uma tendência de maior uso de carteiras digitais na versão mobile, para pagamentos em lojas físicas.

Por isso, os pagamentos por aproximação e QR Code devem se tornar um recurso essencial das carteiras digitais nos próximos anos. Além disso, fica claro que cada vez mais estabelecimentos deverão passar a aceitar pagamentos por meio de carteiras digitais.