O mercado bancário brasileiro passou por grandes transformações ao longo da última década, com a migração para o digital. No entanto, nada se compara com o que ocorreu a partir de 2020, devido à pandemia.

Uma pesquisa recente da Idwall, intitulada “Análise de Mercado: Banco Digitais (2021-S1)” indica que o número de contas digitais no Brasil deve passar dos 200 milhões em 2021. Apenas em 2020, foram criadas 95 milhões de contas, 339% a mais que em 2019.

É verdade que as inovações devem se tornar ainda mais rápidas e intensas com o aumento expressivo da base de clientes e novos investimentos no setor. Por outro lado, essa aceleração pode antecipar problemas para muitas empresas. Neste artigo, apresentamos nossos principais prognósticos a partir dos resultados completos da pesquisa da Idwall.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa da Idwall analisada neste artigo tem como foco o mercado de bancos digitais no Brasil no primeiro semestre de 2021. Ela se baseia em dados e informações extraídos de diversas fontes e disponíveis ao público geral.

A Idwall comparou e analisou o material coletado conforme seus critérios. As conclusões do estudo, portanto, não necessariamente coincidem com o que foi expresso neste artigo com base nos mesmos dados.

Consolidação de líderes do setor

A expansão extraordinária da base de clientes durante a pandemia é causa e efeito de um forte investimento das fintechs. Em 2020, as empresas brasileiras de tecnologia do segmento financeiro receberam US$1,9 bilhão em investimentos.

Esse volume de inversões foi 73% superior ao do ano anterior. Além disso, boa parte desse dinheiro – US$580 milhões – foi investida em dezembro, com o cenário da pandemia já consolidado.

95 milhões

contas digitais criadas em 2020

95 milhões

contas digitais criadas em 2020

339%↑

contas digitais
(2020 x 2019)

Fonte: Idwall

Ao mesmo tempo, o número de startups abertas em 2020 foi 90% inferior ao do ano anterior. Isso indica que o grosso dos investimentos no setor acabou se concentrando em empresas já estabelecidas.

De fato, Nubank, Neon, C6 Bank e Creditas receberam, em conjunto, quase US$1,1 bilhão em aportes em 2020, o que corresponde a mais de 50% dos investimentos no setor. Além disso, oito empresas foram responsáveis pela criação de 54 milhões de contas em 2020. Esse grupo reúne marcas conhecidas, como Nubank, PicPay e Next. Todas elas já estavam presentes no mercado antes de 2019, com exceção do C6 Bank.

US$1,9 bi

valor total de investimentos em fintechs no Brasil (2020)

73%↑

crescimento no investimento em fintechs no Brasil (2020 x 2019)

50%

 investimento com 4 fintechs (Nubank, Neon, C6 Bank e Creditas)

Fonte: Idwall

A pandemia pode ter colaborado para uma concentração dos investimentos em bancos digitais já existentes, pela aversão ao risco de novos empreendimentos. No entanto, o ritmo de fundação de novas fintechs já havia diminuído após 2017, quando 127 empresas foram criadas nesse setor no Brasil. Em 2018, esse número caiu para 115. Em 2019, para 77 fintechs. Em 2020, foram apenas sete novas empresas.

É muito cedo, claro, para prever algo parecido com uma oligopolização do setor. Afinal, este é um mercado extremamente dinâmico, o que significa que podem surgir novos produtos a qualquer momento. No entanto, em breve, pode passar a ocorrer uma maior concentração de inovações nas empresas líderes do mercado, bem como uma consolidação das suas marcas junto ao público geral.

Bancos tradicionais em desvantagem

Outro fenômeno que pode ter sido acelerado pela pandemia é o da migração de clientes dos bancos tradicionais para as novas plataformas totalmente digitais.

Na década passada, os grandes bancos fizeram frente às fintechs graças ao lançamento de apps para celular e demais soluções voltadas ao ambiente digital. No entanto, sua competitividade sempre esteve atrelada, também, à rede de atendimento em agências físicas, entre outras facilidades.

Com as medidas de distanciamento social, as vantagens de contar com uma rede de atendimento presencial acabaram perdendo força.

Fundação de Novas Fintechs

Fonte: Idwall

Em 2019, os aplicativos dos bancos tradicionais ainda correspondiam a 52% dos apps baixados no mercado bancário. Os outros 48% eram de bancos digitais. Em 2020, no entanto, os números se inverteram. Alguns fatores podem ter colaborado para isso, como mostra a pesquisa da Idwall.

Por exemplo, é mais fácil abrir conta em bancos que já nasceram digitais, devido ao uso de tecnologias automatizadas de identificação. Uma das consequências disso é que o tempo médio de aprovação em bancos totalmente digitais é três vezes menor, em média, que em um banco tradicional digitalizado.

É verdade que o impacto disso pode diminuir com a tão sonhada “volta à normalidade”. No entanto, será difícil reverter esse processo. A liderança em inovação das fintechs e o maior conhecimento da população sobre essas plataformas deverá ter um efeito significativo a longo prazo. Resumindo: os bancos tradicionais passarão a enfrentar com maior intensidade a competição de plataformas voltadas totalmente ao digital.

Segurança: um desafio para os bancos digitais

Apesar da popularização dos bancos digitais durante a pandemia – e mesmo antes dela – há áreas nas quais eles devem enfrentar grandes desafios nos próximos anos. E em pelo menos um aspecto os bancos tradicionais podem acabar levando vantagem sobre as fintechs: segurança.

Como mostra a pesquisa da Idwall, o setor financeiro está entre os que mais sofreram com vazamentos de dados entre 2019 e 2020. Além disso, pelo menos um em cada cinco brasileiros já teve seus dados fraudados na internet. Os dados roubados incluem desde o número de telefone (51,3% dos casos) até informações de cartão de crédito (19,3% das vítimas).

Mãos segurando celulares com logos do Nubank e PagBank na tela

Nubank e PagBank estão entre as contas digitais brasileiras

Com o aumento da base de usuários de bancos digitais e fintechs em geral, há uma tendência de exposição ainda maior ao risco nos próximos anos. Isso se deve não apenas ao maior volume de usuários de serviços online, mas também à dificuldade em educar usuários sobre possíveis fraudes. Principalmente, quando eles utilizam produtos que, muitas vezes, são diferentes de tudo o que eles já viram antes.

Nesse sentido, os bancos tradicionais que operam no ambiente digital têm pelo menos duas vantagens importantes sobre os bancos totalmente digitais. Em primeiro lugar, têm maior experiência no combate a fraudes. Muitos deles contam, há mais de uma década, com equipes especializadas em ameaças como phishing e malware, para ficar apenas nos casos mais clássicos de fraudes na internet. Em segundo lugar, têm marcas mais sólidas.

Tanto a expertise quanto a solidez de suas marcas podem ajudar os grandes bancos a passar maior credibilidade em um mercado repleto de ameaças. Porém, eventuais inovações das fintechs no combate a fraudes podem reduzir essa vantagem.

Conclusões

Com a expansão acelerada da base de clientes durante a pandemia e o número já grande de empresas no setor, a expectativa é de que haja uma maior saturação do mercado nos próximos anos.

Por esse motivo, pode haver uma maior concentração de novos investimentos em empresas já estabelecidas. A capacidade de inovação e a força cada vez maior de algumas marcas certamente terá um papel importante nesse processo.

Cadeado de segurança na tela do celular em frente à laptop

Segurança é questão decisiva para credibilidade das contas digitais

Muitos players importantes podem ficar para trás. Esse é o caso não só dos bancos tradicionais, mas também de bancos digitais e outras fintechs que não forem capazes de competir com os líderes do setor.

No entanto, tanto no primeiro caso quanto no segundo, a situação pode ser revertida pelo surgimento de novos produtos e devido à capacidade de investimento dos grandes bancos em soluções digitais. Além disso, os grandes bancos podem se beneficiar de uma maior credibilidade para lidar com riscos de fraudes e vazamentos.