Apesar de ouvir dizer que receber cartão de crédito é obrigatório para qualquer negócio, você pode ainda estar entre aqueles que não oferecem essa facilidade para o cliente. E se este é o seu caso, saiba que não está sozinho.

Segundo o estudo “Máquina de Cartão” realizado pelo Sebrae e Checon Pesquisa, o setor de máquina de cartão ainda tem muito o que crescer n Brasil. Porém, os motivos por trás disso podem ser um pouco diferentes daqueles que você imaginou, como vamos explicar a seguir.

Entenda como foi definida a amostra

Para chegar aos seus resultados, a pesquisa buscou uma amostra representativa e balanceada. Foram entrevistadas quase 4 mil pessoas entre agosto e setembro de 2016  e o estudo seguiu as regras dos códigos de ética da ABEP e ESOMAR, além da norma ABNT NBR ISO 20.252:2012.

Entre os entrevistados, 2.129 eram microempreendedores individuais, 1.287 microempresários e 387 pequenos empresários. Seus ramos de atividade foram divididos em três categorias: 1.803 atuam no comércio, 1.202 em serviços e 798 em indústrias ou na construção civil.

E em termos de perfil socioeconômico, 59% tinham entre 30 e 54 anos, 56% eram do sexo masculino e 42% contavam com ensino médio completo.

gráfio de pesquisa Sebrae

Crédito: Pesquisa “Máquina de Cartão” Sebrae/Checon – Outubro 2016

Quem disse que ainda não tem máquina de cartão

De acordo com a pesquisa,  61% dos entrevistados afirmaram ainda não contar com uma máquina de cartão. Os números são um poucos melhores na região Sudeste (56%) e Centro-Oeste (56%) – mas nem por isso animadores – e ainda mais altos no Nordeste (70%).

Resultado positivo foi obtido apenas na análise por setor, com 52% dos comerciantes confirmando o uso da máquina. Já no setor de serviços, este dado cai para 33% e é muito menor na indústria e construção civil, onde apenas 20% dos empreendedores usam este recurso para receber pagamentos.

Fica claro que a maioria dos empreendedores brasileiros de micro e pequeno porte ainda não recebe cartão de crédito e débito, mesmo aqueles que vendem diretamente ao consumidor – um número bastante alto.

Gráfico mostrando quem tem máquina de cartão da pesquisa do Sebrae

Crédito: Pesquisa “Máquina de Cartão” Sebrae/Checon outubro 2016

E a principal razão você conhece agora

Por incrível que pareça, não foi o custo da máquina de cartão, seja da compra, aluguel ou das taxas, o motivo apontado pela maioria dos empreendedores para não contar com uma delas.

Quase 80% dos entrevistados que não usam máquina de cartão afirmaram simplesmente preferir aceitar outras formas de pagamento em lugar do cartão de crédito ou de débito.

A pesquisa não esclarece os motivos dessa preferência por se tratar de ume studo quantitativo, mas é possível concluir que esta esteja relacionada aos seguintes fatores:

  • Preferência e perfil do cliente

  • Desconhecimento das vantagens de receber pagamentos com cartão

Vamos discutir cada uma delas a seguir para que possamos entender melhor o que pode estar acontecendo.

Se for esta a preferência do cliente, não há muito o que fazer

Existe sim a possibilidade de seu negócio atender a clientes que preferem outras formas de pagamento.

Segundo pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e Instituto Ipsos divulgada pela Época Negócios, apenas cerca de 64% dos brasileiros possuem conta bancária. E o SPC Brasil infoma que apenas 61% dos consumidores brasileiros contam com cartão de crédito – e este número cai para 54% entre as classes C, D e E.

Assim, é possível que o perfil do cliente de certos empreendimentos não exija esta forma de pagamento, seja porque o cliente não tem cartão, ou porque este não confie ou não queira usá-lo – cerca de 90% dos entrevistados pelo SPC Brasil afirmaram considerar o cartão de crédito como o principal vilão da economia doméstica.

O boleto bancário também é ainda muito forte no Brasil. E quem vende para empresas também sabe que pagamentos via depósito ou débito bancário são mais usados do que o cartão de crédito. Estas modalidades são bastante comuns nas indústrias, construção civil e entre diversos tipos de prestadores de serviços.

Se este é o seu caso, não há muito o que fazer. Se seus clientes não querem pagar com cartão, ou se a procura não é suficiente para cobrir os custos da máquina, não há porque ter uma delas. Simples assim.

Já se for desconhecimento das vantagens, é preciso se informar

Por outro lado, é possível que muitos empreendedores não contem com máquinas de cartão simplesmente por não compreenderem como estas podem ser vantajosas para o seu negócio.

É possível que muitos empreendedores aindam não saibam que o cartão de crédito, com ou sem parcelamento, gera uma comodidade que estimula vendas por impulso. Ou que muitos consumidores dão preferência a locais onde possam usar essa forma de pagamento – já que eles querem maior flexibilidade, não ter que que se preocupar com quanto têm na carteira, e também evitar carregar altas somas de dinheiro vivo.

A máquina de cartão também garante saúde financeira ao seu empreendimento. Se você recebe pagamentos parcelados, por exemplo, fazer isso via cartão de crédito é muito mais seguro, uma garantia extra de que o pagamento será feito em dia. Outra alternativa seria a emissão de boleto bancário, mas este processo é mais trabalhoso, demorado, exige conta bancária, e pode sair mais caro em alguns casos.

Outra questão é a sua segurança e a de seu faturamento. Em caso de assalto, você poderá perder todo o seu faturamento do dia ou da semana, a depender de com que frequência você possa ir ao banco fazer depósitos. Isso sem falar no risco que você corre ao fazer este transporte da sua loja ou residência até o banco.

E estas são apenas algumas das razões pelas quais a maioria dos vendedores devem receber cartão.

Gráfico com razões para não ter máquina de cartão da pesquisa Sebrae

Crédito: Pesquisa “Máquina de Cartão” Sebrae/Checon outubro 2016

Outras razões revelam preocupação com custos e possíveis falhas no gerenciamento financeiro

Além do ponto central acima, outras questões foram apontadas para justificar a ausência da máquina de cartão pelos entrevistados. Entre eles, 56% afirmaram considerar as taxas de transações e para antecipação de recebíveis muito altas, e 54% culparam o que consideram como o alto custo da mensalidade ou da compra da maquininha.

Custos pode ser um problema real para diversos micro e pequenos empreendedores, porém o mercado já amadureceu ao ponto de oferecer diversas opções em termos de preços, com produtos e planos de taxas para todos os bolsos. Mas é possível que o fato de 44% terem dito não conhecer os produtos ou as empresas fornecedoras possa estar agravando esta percepção.

Outro problema citado é o fato de 37% acreditar que o prazo para recebimento das vendas é muito longo. Isso pode significar que estes não contam com fluxo de caixa suficiente, o que é um outro desafio entre micro e pequenos empresários. Porém, isso pode ser resolvido pagando taxas mais altas para receber o saldo das vendas mais rápido.

Há receio também de extrapolar o limite de faturamento da empresa e acabar paganto taxas mais altas, questão apontada por 34% dos entrevistados. Neste caso, o ideal é buscar um método de acompanhamento rigoroso das finanças do negócio e esclarecimentos sobre os limites de transação da empresa contratada para evitar surpresas.

É preciso investir mais em conhecimento e gestão financeira

Diante do que foi apresentado acima, fica clara a necessidade de ampliar conhecimento e investimentos em gestão financeira. Muitos micro e pequenos empreendedores não contam (ou não buscam) com as informações necessárias para tornarem-se mais competitivos, e acabm repetindo modelos antigos de gerenciamento.

É fato de que esta não é uma tarefa fácil. Porém, há diversos recursos disponíveis oferecidos de forma gratuita. O próprio Sebrae conta com profissionais prontos para orientar empreendedores sobre a necessidade ou não de receber cartão de crédito.

Empresas fornecedoras de máquinas de cartão também podem contribuir, deixando mais claros os benefícios e modelos oferecidos por seus produtos e planos de taxas. Desta forma, a economia amadurece e torna-se mais segura e flexível para empresários e consumidores.