A 3ª edição do Radar Febraban, realizada em setembro deste ano, aponta para um crescimento da confiança dos consumidores em relação às fintechs no Brasil. Em um período de seis meses, desde a 1ª edição da pesquisa (março/2021), aumentou em 20,4% a parcela da população que diz confiar nas instituições desse setor.

Em um período marcado por incertezas econômicas, mesmo em meio ao relaxamento das restrições provocadas pela Covid-19, as fintechs parecem estar conquistando o público brasileiro.

Central de dados nuvem

Brasileiros estão mais confiantes na tecnologia usada pelas fintechs

Apesar de essa popularização recente ter ocorrido, em grande medida, pelas mudanças de hábitos provocadas pela pandemia, as fintechs já representam bem mais que aliadas em tempos de crise.

Fica cada vez mais claro, como mostra a confiança demonstrada pelos brasileiros, que bancos digitais, carteiras eletrônicas e outras aplicações financeiras estão conquistando de vez o mercado local.

Metodologia da pesquisa

As edições do Radar Febraban são realizadas trimestralmente. O foco da pesquisa é a expectativa dos brasileiros em relação à economia e ao consumo no país, bem como sua opinião sobre os bancos e os meios de informação. O estudo é conduzido pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) sob encomenda da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN).

A 3ª edição do Radar Febraban foi realizada entre os dias 2 e 7 de setembro de 2021. A pesquisa seguiu uma amostra estratificada de 3 mil entrevistados, todos eles maiores de 18 anos, distribuídos pelas cinco regiões do Brasil. A margem de erro estimada é de 1.8% para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,5%.

Fintechs x bancos tradicionais: um empate técnico

Em março deste ano, quando a 1ª edição do Radar Febraban foi realizada, 49% dos entrevistados disseram confiar nas fintechs, enquanto 37% afirmaram não confiar e 14% não souberam ou não quiseram responder.

Em relação aos bancos tradicionais, 57% disseram confiar, 33% não confiavam e 10% não responderam. Ou seja, a confiança nas fintechs ficou 8% abaixo da que foi demonstrada em relação aos bancos tradicionais.

59%

Porcentagem confiante em fintechs

60%

Porcentagem confiante em bancos

10%↑

Crescimento da confiança em fintechs

Já na última edição da pesquisa, a 3ª da série, o número de entrevistados que disse confiar nas fintechs saltou de 49% para 59%. No mesmo período, a parcela dos que confiam nos bancos tradicionais chegou a 60%.

Considerando a margem de erro da pesquisa (1,8% para cima ou para baixo), nota-se um empate técnico. Ou seja, as fintechs já contam com o mesmo nível de confiança de empresas bem mais tradicionais.

Homem usando smartphone em uma mão e segurando cartão de crédito na outra

Fintech ganharam o público ao trazer o banco para o celular

Em sentido contrário, não apenas houve uma queda no número de entrevistados que diz não confiar em fintechs (de 37% para 31%), mas também no número de pessoas que não souberam ou não quiseram responder a essa questão (de 14% para 10%).

Isso pode indicar que o aumento da confiança passa por um conhecimento cada vez maior sobre o funcionamento das fintechs, inclusive pelo crescimento do uso dessas aplicações.

Quem confia mais nas fintechs?

No relatório da 3ª edição do Radar Febraban, o IPESPE divulgou recortes dos números por quatro categorias: Sexo, Idade, Instrução e Renda Familiar.

Na categoria Sexo, não há diferença significativa no nível de confiança nas fintechs entre homens e mulheres, que exibem números iguais (59% e 58%, respectivamente), quando levamos em conta a margem de erro.

Confiança por sexo

Fonte: Radar Febraban

Por outro lado, esse equilíbrio é diferente do observado em relação aos bancos tradicionais. Nesse caso, os homens tendem a confiar menos nas empresas do setor (55% contra 64% das mulheres).

Nas demais variáveis, há diferenças bem claras no nível de confiança nas fintechs. Em geral, ele é maior entre pessoas mais jovens, com maior grau de instrução e cuja renda familiar é superior.

O fator geracional

Na variável Idade, o nível de confiança vai de 75%, entre pessoas de 18 a 24 anos, para apenas 44%, entre quem tem 60 anos ou mais.

Os números das outras faixas etárias (61% entre 25 e 44 anos e 52% entre 45 e 59 anos) reforçam que se trata de uma queda linear na confiança conforme o aumento da idade dos entrevistados.

Confiança por idade (%)

Fonte: Radar Febraban

Dito de outra forma, quanto mais jovens são as pessoas, mais elas tendem a confiar nas fintechs. Nesta pesquisa, todos os entrevistados tinham 18 anos ou mais de idade.

Considerando que muitos usuários de serviços e aplicações financeiras são mais jovens que isso, o nível de confiança provavelmente seria superior com uma mudança na metodologia do IPESPE.

O peso da educação

Na variável Instrução, o nível de confiança cresce de 44% para 53% e, finalmente, para 61%, conforme o grau de escolaridade dos entrevistados – respectivamente, Fundamental, Médio ou Superior.

Neste ponto, é importante ressaltar que, no Brasil, a escolaridade média tende a ser menor nas faixas etárias superiores. Além disso, há uma correlação entre escolaridade e nível de renda.

Confiança por nível educacional (%)

Fonte: Radar Febraban

De todo modo, em todas as faixas pesquisadas, o nível de confiança nas fintechs ficou acima dos 50%. Ressalta-se o alto nível de confiança por parte de quem tem ensino superior (66%).

Principalmente, porque esse público expressou um nível de confiança de apenas 60% nos bancos tradicionais, na mesma edição da pesquisa.

Renda e tecnologia

Quando a questão é a renda familiar, notamos uma certa diferença, em relação ao observado nas variáveis Idade e Instrução.

Apesar de haver uma maior confiança dos entrevistados em fintechs, conforme aumenta o nível de renda, ela fica empatada (dentro da margem de erro) nas duas faixas superiores: 65% entre rendas de dois a cinco salários mínimos e 64% para rendas acima de cinco salários mínimos. Já entre quem ganha até dois salários mínimos, a confiança é de 54%.

Confiança por renda (%)

Fonte: Radar Febraban

Entre as variáveis pesquisadas, esta é a única em que a confiança nos bancos tradicionais ainda supera a confiança em fintechs nas duas “pontas”.

Ou seja, neste caso, tanto quem ganha menos quanto quem tem uma renda mais elevada continua confiando mais nos bancos tradicionais. No entanto, é provável que os motivos sejam diferentes em cada caso.

A consolidação de um modelo

A edição mais recente do Radar Febraban confirma o aumento da confiança dos brasileiros nas fintechs, o que parece ser efeito, também, do impulso no uso de bancos digitais e outros serviços financeiros online durante a crise sanitária. A principal novidade, agora, é o fato de o nível de confiança nas fintechs ter igualado o dos bancos tradicionais.

Considerando os recortes da amostra, sem deixar de ponderar os eventuais impactos da menor significância estatística dentro de cada subcategoria, confirma-se a tendência de um maior nível de confiança nas fintechs pelas pessoas mais jovens, com maior grau de instrução e melhor nível de renda.

Cabe ressaltar, no entanto, que as pessoas de renda ainda elevada ainda são aquelas que demonstram o maior nível de confiança em bancos tradicionais, mesmo que também aprovem as fintechs. Em grande parte, isso pode refletir as camadas de serviços e nível de atendimento que elas conseguem acessar nessas instituições, em comparação com outras faixas de rendas, que encontram novas possibilidades nas fintechs.

De todo modo, ao mesmo tempo em que a pesquisa confirma a consolidação do modelo de negócio das fintechs junto ao mercado brasileiro, também deixa em aberto o quanto os bancos tradicionais podem realmente ficar para trás na preferência do público. Além disso, com o crescente investimento em tecnologia e em novos produtos, ainda poderemos falar em bancos “tradicionais” em um futuro próximo?